Dia 1. De Manaus a Porto Velho pela BR-319
Por: Ana Cíntia Guazzelli
A BR-319 é mesmo para brutos! Ela e seus desafios abriram a primeira etapa da nossa viagem, rumo à desova anual das tartarugas-da-amazônia (Podocnemis expansa), no rio Guaporé, fronteira de Rondônia com a Bolívia. Eu, Ana Cíntia Guazzelli, acompanho a especialista de quelônios da WCS Brasil, Camila Ferrara, para monitoramento dos bichos e avaliação das condições de ambientes de desova das tartarugas. A nós, junta-se Antônio Ionaldo Pinheiro Rodrigues, o Naldo, que nos conduz em sua S-10 com destreza, profissionalismo e muito bom humor pelos cerca de 3.600 km nas estradas dessa Amazônia diversa, única e resiliente.
Saímos de Manaus na quinta-feira, 17 de outubro de 2024, na balsa das 5h, com uma hora de atraso. A seca severa do rio Negro e rio Solimões contribuiu para o aumento no tempo da travessia rumo ao município de Careiro da Várzea, de onde seguimos, enfim, para iniciar o trajeto de mais de 800 km da BR-319 até Porto Velho, nosso primeiro destino.
Superando as 12 horas calculadas de viagem, conseguimos chegar em Porto Velho à meia noite e meia, de hoje, sexta-feira, 18.
Três paradas foram intencionais: café-da-manhã; almoço, ao meio dia, e jantar, às 22h30. As outras, várias, aconteceram em decorrência das intempéries da própria estrada.
Os mais de 800 km da BR-319 se distribuem em paisagens diversas e condições adversas de estrada e climáticas!
Ontem, quinta, 17, o dia iniciou ensolarado, passou para nublado, super sol e chuva, tudo isso em uma estrada com mais de 500 km de poeira, sem asfalto. Aqui, tb os ambientes se diferem: areia, chão batido, piçarra, buracos, muitos declives laterais, pedregulhos e barro. Essas condições, claro, dificultam a condução dos veículos, em sua maioria caminhões enormes, de carga. Passamos por três carretas tombadas e uma carga, a de carne, saqueada. Moradores locais asseguram que esse tipo de acidente ocorre todos os dias. Alguns, fatais.
Outro fator que nos surpreendeu foram as carretas paradas na beira da estrada. Por quilômetros, centenas delas aguardavam para atravessar os rios de pontes caídas, nos municípios de Careiro da Várzea e Careiro Castanho. Alguns caminhoneiros forçadamente, esperaram por até seis dias - sem qualquer infraestrutura de apoio e acolhimento.
As pontes desmoronaram em 2022. Para as reconstruções, apenas promessas políticas vazias e o sonho diário daqueles que dependem da BR para sobrevivência. E a espera.
Nosso carro, por ser menor, tem prioridade nas balsas. Mesmo assim, para uma das travessias de cerca de 50 metros, aguardamos por mais de meia hora.
No saldo, 20 horas de viagem, muita reflexão e um pneu furado nas pedras afiadas de um trecho da estrada, na caída da noite.
Hoje, seguimos no sentido leste de Rondônia, em direção a São Francisco do Guaporé, com cálculo de oito a 10 horas. Dessa vez, pela BR-364, toda asfaltada.
O ânimo da equipe continua acirrado.
Seguimos No Rumo das Tartarugas.
FOTOS: Ana Cíntia Guazzeli e Camila Ferrara