A conservação dos ecossistemas aquáticos da Bacia Amazônica tem inspirado uma série de iniciativas que levaram a uma compreensão mais profunda dos ecossistemas de várzea e sua importância para a biodiversidade aquática e terrestre. Contribuições importantes vêm ocorrendo principalmente através de iniciativas com manejo de peixes e outras espécies aquáticas em escala local. Esses avanços tem contribuído na melhora da qualidade de vida das populações locais que dependem destas espécies para sua subsistência. No entanto, esses avanços positivos também expuseram os desafios associados com a gestão de dinâmicas hidrológicos complexas e espécies que migram longas distâncias durante o seu ciclo de vida, e servem para destacar a necessidade de uma gestão dos recursos aquáticos em escalas múltiplas, da escala comunitária local até a escala global do sistema hidrológico por completo.
Baseando-se em décadas de trabalho nas florestas alagadas do Brasil e do Peru, a WCS lançou uma iniciativa inovadora que reconhece o valor da pesca, da vida selvagem e dos seus habitats aquáticos na Amazônia Ocidental e a necessidade de gerir esses recursos de forma sustentável e contribuir para a qualidade de vida da população local: Amazon Waters.
A WCS está trabalhando para construir ferramentas de análise, mecanismos de gestão e políticas, e parcerias que permitam que a conservação possa ser planejado e coordenada na escala adequada para gerir de forma eficaz as complexas atividades biológicas e econômicas da região. A escala deste trabalho é inédita e atravessa fronteiras internacionais que incluem o Brasil, Peru, Bolívia, Equador e Colômbia. Esta escala é fundamental e permitirá compreender, priorizar e gerenciar os processos ecológicos em toda a região influenciada pelo grande fluxo do sistema hidrográfico do Rio Amazonas.
Porque Águas Amazônicas?
A maioria das pessoas, quando pensa na Amazônia a primeira imagem que vem à cabeça é a de uma região coberta por uma vasta floresta tropical. E realmente, as florestas tropicais de terra firme cobrem aproximadamente 80% da Bacia Amazônica. Mas, é fácil esquecer que o que faz da Amazônia uma região única, não é somente o fato de possuir uma grande área de florestas (como as que existem na América Central, África e Sudeste Asiático), é também os espetaculares e complexos ecossistemas aquáticos que se formaram ali, e que em conjunto com a floresta, sustentam a vida humana e selvagem.
A Bacia Amazônica é o maior sistema hidrográfico do planeta, cobrindo uma área equivalente ao território continental dos Estados Unidos, e é responsável por 15-16% da água doce que chega aos oceanos. O Estado do Amazonas no Brasil, onde a WCS foca seus trabalhos, é único em termos de tamanho e abundância de florestas, lagos de várzea, e outras paisagens aquáticas, habitats onde a vida selvagem prospera, incluindo espécies icônicas como a onça-pintada, jacaré, boto-cor-de-rosa, peixe-boi, ariranha e a tartaruga-da-amazônia.
Não podemos esquecer dos peixes! Apesar de historicamente o extrativismo de óleos vegetais e borracha terem atraído maior interesse econômico para a Bacia Amazônica, a pesca ainda é o principal recurso natural proveniente dessa região. Além de suportar a maior diversidade de espécies de peixes de água doce do planeta (1800-3000 espécies), o sistema fluvial amazônico é um dos mais significativas em termos de produção total de peixes. Ali encontram-se algumas das maiores espécies de peixes de água doce do mundo, incluindo o pirarucu, que pode crescer até 3 metros e pesar 200 kg, assim como espécies migratórias que se distribuem ao longo de milhares de quilômetros e que são de extrema importância para a subsistência das populações humanas.
Estes ecossistemas aquáticos e suas especies nativas são vitais para quase 20 milhões de pessoas que vivem na Amazônia (quase 4 milhões no estado do Amazonas), funcionando como fontes de proteínas, geração de renda, e rede de transporte (hidrovias), e água potável para consumo para populações rurais e urbanas.