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A demanda de animais silvestres, vivos ou não, como animais de estimação, ornamentos, ou para consumo e uso medicinal, é normalmente atendida por mercados ilegais.

Desde a origem até o destino final desse comércio ilegal, existem condições de alto risco para o surgimento e transmissão de patógenos zoonóticos, doenças que podem passar dos animais para pessoas (zoonose). Nesses mercados, animais domésticos e silvestres são misturados e tem  contato frequente com os fluidos corporais (sangue, urina e fezes), aumentando o potencial de trasmissão dos agentes causadores de doenças, como aconteceu no mercado de animais vivos em Wuhan, China, onde acredita-se que a tramissão de um novo coronavírus (SARS-CoV-2)  deu origem à doença conhecida como COVID-19.

Embora o animal hospedeiro que transmitiu esta doença a um ser humano ainda não tenha sido identificado, é importante reconhecer o risco que os mercados ilegais representam para a transmissão de zoonoses, que tem potencial de se transformar em uma pandemia. Desde o primeiro caso de COVID-19, notificado no final de dezembro de 2019, até 8 de abril de 2020, mais de 1,5 milhão de casos positivos e 87 mil mortes foram relatadas em 184 países[1].

A transmissão acelerada das doenças zoonóticas

As doenças zoonóticas são transmitidas naturalmente entre animais (silvestres e domésticos) e pessoas por exposição direta ou indireta, consumo de produtos derivados (como carne, leite, ovos, entre outros) ou contato com o entorno.

As oportunidades de transmissão aumentam à medida que aumenta o contato das pessoas com animais silvestres, principalmente devido a perturbarções na dinâmica natural dos ecossistemas causadas pelo homem, ou quando esses animais são retirados de seu habitat natural para outro ambiente para serem comercializados. Essas alterações reduzem as barreiras naturais entre humanos e animais, criando condições favoráveis à propagação de zoonoses[2].

A situação na região Andes, Amazônia & Orinoco

Esta região é composta pela Colômbia, Equador, Peru, Brasil e Bolívia, países que formam a Amazônia e que abrigam um quarto da biodiversidade do planeta, grande parte ameaçada pelo comércio ilegal, sobretudo espécies de animais silvestres - comercializados vivos ou como subprodutos para usos diversos.

As condições climáticas dessa região favorecem a proliferação de muitas outras doenças raras, e até inexistentes em algumas regiões, que são transmitidas por vetores e contaminam seres humanos como a dengue, chicungunya, zika, febre amarela e doença de Chagas. A dinâmica natural dos agentes infecciosos, suas espécies hospedeiras, reservatórios e vetores é afetada por atividades antropogênicas, como desmatamento, expansão da fronteira agrícola, novos assentamentos humanos em áreas florestais, comércio ilegal de animais silvestres, entre outros.

Prevenção de futuros surtos de doenças emergentes, como o COVID-19, no contexto da região Andes, Amazônia & Orinoco

O COVID-19 criou um cenário nunca antes visto, que desafia os sistemas de saúde pública de todos os países afetados e tem um enorme impacto na economia global devido as medidas de quarentena e isolamento social para contençaão da velocidade de transmissão da doença. Com o intuito de interromper a fonte de transmissão da COVID-19, a China primeiro país a denunciar a doença, anunciou em fevereiro a proibição da compra, venda e consumo de animais silvestres.

Os esforços para fortalecer ações em favor da saúde pública e da conservação da biodiversidade devem adotar a abordagem abrangente conhecida como "Um planeta, uma saúde, um futuro", promovida pelo grupo de trabalho dos Princípios de Berlim, dos quais o WCS faz parte. Essa abordagem destaca a estreita relação entre humanos, animais e o ecossistema e fornece orientação sobre a redução do risco de zoonoses por meio de respostas multissetoriais, uma vez que os esforços de um único setor não podem impedir ou eliminar problemas de saúde pública. Sob essa abordagem, é essencial implementar ações para evitar o aumento da demanda por determinadas espécies em mercados ilegais e redes cada vez mais organizadas de tráfico ilegal de vida silvestre.

Embora a dimensão real do problema do comércio ilegal de espécies ainda seja desconhecida, é claro que gera um risco significativo de transmissão de doenças, pois é comum a superlotação e aglomeração de animais, mistura de espécies silvestres e domésticas, e contato com fluidos e excrementos. Essas situações se repetem ao longo da cadeia desde a extração, trânsito até a venda final. Além disso, o comércio ilegal contribui para a extinção de espécies e a progressiva perda e degradação dos ecossistemas e, portanto, à instabilidade de comunidades humanas tradicionais e seus meios de subsistência.

Diante disso, várias iniciativas foram implementadas na região para combater esse problema. Uma delas é a Declaração de Lima, assinada por 20 países em outubro de 2019, como parte da I Conferência de Alto Nível das Américas sobre o Comércio Ilegal de Animais Silvestres. Esse compromisso regional classifica o comércio de animais silvestres como um crime grave e determina que os governos devem enfrentá-lo através da colaboração entre países, a fim de desenvolver mecanismos de cooperação mais eficazes que permitam sua diminuição.

Outra iniciativa é a Aliança pela Fauna Silvestre e Florestas, financiada pela União Européia, através da qual a WCS vem implementando, desde janeiro de 2019, ações que buscam melhorar o entendimento da dinâmica do tráfico de animais silvestres, fortalecer as capacidades de autoridades e sociedade civil, e promover seu envolvimento nas ações realizadas pelos órgãos governamentais para apoiar o controle e a aplicação da lei. Essas ações estratégicas são realizadas na Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e em áreas de fronteira com o Brasil.

A implementação e articulação desse tipo de iniciativa ajudará a região a fortalecer ações para reduzir o tráfico de animais silvestres, a fim de evitar futuros impactos negativos na saúde e no bem-estar das pessoas, na economia e na segurança, pois tudo está conectado.

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