A Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (ENCCLA) lançou um relatório que aprofunda, de forma inédita no país, a relação entre o tráfico de fauna e a lavagem de ativos. O documento consolida conceitos, descreve mecanismos usados por redes criminosas para ocultar a origem de animais e recursos, reúne casos investigados no Brasil e propõe recomendações para aprimorar a atuação de órgãos ambientais, policiais, Ministério Público, Judiciário e sistema financeiro.
Entre os principais aportes do relatório estão a organização dos diferentes tipos de lavagem vinculados ao tráfico de fauna, a descrição de estratégias usadas para “esquentar” animais silvestres e a discussão jurídica sobre o enquadramento dessas práticas como lavagem de dinheiro. O texto também apresenta exemplos de operações que evidenciam a presença de estruturas organizadas no crime contra a vida silvestre e sugere caminhos práticos para aumentar a efetividade das investigações e responsabilizações.

Representação de duas formas de burlar a legislação para comercializar animais silvestres (retirado do relatório).
A WCS Brasil integrou esse esforço colaborativo, contribuindo tecnicamente com evidências, análises e articulações que ajudaram a sustentar a construção do produto. O relatório se apoia em um acúmulo recente de pesquisas e diálogo interinstitucional sobre corrupção e crime organizado associado ao tráfico de animais.
“Esse relatório dá um passo importante ao tratar o tráfico de fauna como parte de engrenagens financeiras maiores. Quando seguimos o rastro do dinheiro, aumentamos muito as chances de desmontar redes e não apenas capturar agentes isolados”, afirma Antônio Carvalho, da WCS Brasil.
Ao reconhecer a lavagem de animais e de recursos financeiros como componente central do tráfico, o relatório amplia a perspectiva de enfrentamento ao crime. Além de reforçar a necessidade de cooperação entre instituições, o documento destaca o potencial de aplicação da legislação de lavagem de dinheiro, que prevê penas mais severas do que aquelas associadas exclusivamente ao crime ambiental.
“A implicação prática é enorme: usar o arcabouço de lavagem de dinheiro pode elevar o grau de risco para quem lucra com o tráfico e ajudar a romper a lógica de impunidade que ainda marca esse tipo de crime no Brasil”, completa Carvalho.
A WCS Brasil reconhece a publicação como um marco técnico e institucional para avançar no combate ao tráfico de vida silvestre, especialmente no que diz respeito ao crime organizado. A organização seguirá apoiando iniciativas que integrem conservação, inteligência, investigação financeira e políticas públicas capazes de atingir toda a cadeia criminosa.
O relatório completo está disponível neste link.