
A WCS celebrou hoje (28), diretamente de Samarcanda (Uzbequistão), a adoção de medidas históricas e abrangentes aprovadas na CoP20 da CITES, que fortalecem a proteção internacional ao comércio de tubarões e raias.
“Esta é uma vitória histórica, que pertence aos Países Parte que lideraram essas proteções. Nações da América Latina, África, Pacífico e Ásia se uniram em uma demonstração poderosa de liderança e solidariedade, aprovando todas as propostas para tubarões e raias apresentadas na CoP, cobrindo mais de 70 espécies", disse Luke Warwick, Diretor de Conservação de Tubarões e Raias da Wildlife Conservation Society.
>> Confira aqui a proposta apresentada (em inglês).
"Essas decisões não poderiam ser mais urgentes: tubarões e raias são o segundo grupo de espécies mais ameaçado do planeta, e muitas já estão ficando sem tempo. Esses animais são vitais para a saúde e o equilíbrio dos oceanos, moldando a integridade de ecossistemas marinhos inteiros e sustentando o patrimônio cultural de Povos Indígenas e comunidades locais em todo o mundo.
As propostas analisadas pelos Países Parte na CoP20, copatrocinadas por mais de 50 governos, focaram algumas das espécies de tubarões e raias mais ameaçadas do mundo e representam o conjunto mais ambicioso e abrangente de proteções já apresentado à convenção. Todas as propostas foram aprovadas, incluindo:
Apêndice I (proibição total do comércio internacional para fins comerciais) para:
– Tubarão galha-branca oceânico
– Jamantas e raias-diabo
– Tubarão-baleia
Cotas de exportação zero (suspensão de todas as exportações de animais capturados na natureza) para:
– Peixes-serra e grandes raias-viola
Apêndice II (comércio regulado mediante permissões e comprovação de não prejudicialidade) para:
– Tubarões da família gulper
– Tubarões smoothhound e o tubarão tope
Em conjunto, essas inclusões fecham lacunas importantes no mercado internacional de barbatanas, placas branquiais, carne e outros produtos — pressões que historicamente impulsionaram o colapso populacional em nossos oceanos.
Globalmente, mais de 37% das espécies de tubarões e raias estão ameaçadas de extinção. Tubarões oceânicos já declinaram mais de 70% em apenas 50 anos, e tubarões de recife estão funcionalmente extintos em um a cada cinco recifes de coral avaliados no mundo. A CITES continua sendo o único acordo global com autoridade legal para restringir o comércio internacional que impulsiona essas quedas populacionais. Para muitas espécies já em queda livre, essas decisões históricas na CoP20 podem significar a diferença entre recuperação e extinção.
"Os votos de hoje oferecem uma chance real de recuperação — agora precisamos levar esse impulso até a votação final em plenária e avançar para uma implementação rápida. Hoje, o mundo escolheu ação em vez de extinção e reconheceu os tubarões como fauna marinha essencial. Essas decisões representam uma verdadeira esperança para o futuro dos nossos oceanos. Não podemos recuar agora”, afirma Warwick.
Espécies de ocorrência no Brasil - Dentre as propostas aprovadas, o bloco liderado pelo Brasil incluiu os tubarões da família Triakidae (Galeorhinus galeus e Mustelus spp.) no Apêndice II da CITES, garantindo que o comércio internacional dessas espécies passe a ser regulado e condicionado a comprovações de sustentabilidade.
"São tubarões costeiros já severamente impactados pela pesca para carne, barbatanas e óleo, com registros de colapsos populacionais e comércio pouco controlado. Com essa decisão, os países ganham uma ferramenta concreta para frear a sobre-exploração e apoiar a recuperação desses estoques no oceano"
— Antônio Carvalho, especialista no combate ao tráfico de vida silvestre pela WCS Brasil.
Mais de 3.000 pessoas se reuniram em Samarcanda para a CoP20 da CITES, a Conferência das Partes da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas da Fauna e Flora Silvestres, onde 185 países analisam propostas para impedir que o comércio ameace a sobrevivência de espécies selvagens.