
Pintura Indígena. Imagem retirada do vídeo.
Povos indígenas da Amazônia fortalecem seu protagonismo nas discussões sobre o clima e a conservação da floresta em um momento decisivo para o planeta. No âmbito da parceria entre a WCS Brasil, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) e a Articulação das Organizações e Povos Indígenas do Amazonas (APIAM), 10 lideranças indígenas do Amazonas se preparam para participar da COP30, que será realizada em Belém (PA), de 10 a 21 de novembro, enquanto um vídeo curto gravado com indígenas do Alto Rio Içá, reforça o papel da demarcação das terras indígenas como instrumento essencial de política climática.
Demarcação como política climática
A demarcação das terras indígenas está no centro do debate climático brasileiro. A proposta da NDC dos Povos Indígenas do Brasil (Contribuição Nacionalmente Determinada) - construída por organizações indígenas e lançada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), em agosto de 2025 - defende que metas de demarcação e gestão territorial integrem os compromissos oficiais do Brasil no Acordo de Paris.
Nessa rota, a WCS Brasil articula ações que conectam experiências locais e fortalecem o protagonismo indígena na construção de soluções climáticas sustentáveis e justas.
Segundo Ana Luiza Melgaço, coordenadora do Programa de Povos e Territórios Indígenas da WCS Brasil, garantir presença e voz indígena nas negociações é condição para políticas eficazes: “A demarcação é um direito e também uma solução climática. Quando as lideranças estão nos espaços de decisão, o que acontece nos territórios ganha força e consistência nas políticas públicas”, afirma.
Entre as prioridades do programa, a coordenadora aponta cinco eixos estratégicos rumo à Conferência:
- Demarcação de terras indígenas como base da conservação e dos direitos;
- Implementação da Política Nacional de Gestão Territorial e ambiental de Terras Indígenas (PNGATI) e dos Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTAs) como ferramentas eficazes de política climática;
- Integração das ciências indígenas e ocidental, posicionando a liderança dos povos indígenas nas estratégias nacional e internacional de mitigação e adaptação;
- Reconhecimento dos territórios indígenas e tradicionais como instrumentos-chave de política climática nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), enfatizando seu papel na conservação da biodiversidade e na regulação do carbono;
- Acesso direto ao financiamento climático e de biodiversidade para povos e organizações indígenas, a fim de fortalecer a governança e a autonomia territorial.
Participação indígena rumo à COP30
As lideranças indígenas do Amazonas que receberam apoio da WCS Brasil para participação na COP30, compõem um grupo de 20 indígenas que é parte da Delegação do Amazonas com credenciamento para a Zona Azul. Os membros dessa Delegação foram definidos durante a Pré-COP30 Indígena – etapa Amazonas, realizada em setembro de 2025, em Manaus, no âmbito do Ciclo COParente, uma iniciativa do Ministério dos Povos Indígenas (MPI) em parceria com a FUNAI, organizada pela APIAM com articulação da COIAB e apoio de parceiros, entre eles a WCS.
Esse apoio fortalece a presença indígena em painéis, encontros e diálogos oficiais e paralelos da conferência, ampliando a defesa de agendas como a NDC Indígena e a inclusão de metas explícitas de demarcação na política climática do país. “A presença dessas lideranças em Belém é estratégica para levar as experiências dos territórios às mesas de negociação e para que as decisões reflitam a realidade de quem protege a floresta”, reforça Ana Luiza Melgaço.
Vozes do Alto Rio Içá
No Acampamento Terra Livre (ATL), realizado em abril de 2025, em Brasília (DF), lideranças do Alto Rio Içá gravaram o vídeo agora lançado pela WCS Brasil. Nas falas, emergem os impactos da falta de demarcação sobre a vida comunitária, a cultura e a integridade da floresta.
“Nossa bandeira de luta no nosso território é a questão da proteção”, afirma no vídeo Sinésio `Trovão`Isaque, fundador e articulador político do Instituto Ñgutapa.
Já Higino Chota, cacique Kokama do Alto Rio Içá, complementa: “Desde 2009 a gente vem lutando para essa demarcação chegar em nosso território”.
Localizado no extremo oeste do Amazonas, o Alto Rio Içá abriga povos como Kokama e Tikuna, que enfrentam pressões de garimpo, da pesca ilegal e de invasões. As pessoas retratadas no vídeo não são as mesmas que compõem a delegação apoiada pela WCS Brasil para a COP30, mas suas lutas estão articuladas: a defesa do território e da floresta como base da ação climática. A delegação do Amazonas leva essa pauta e representa também as vozes do Alto Rio Içá nas discussões em Belém.
Uma mensagem que atravessa fronteiras
Ao apoiar a participação das lideranças indígenas na COP30 e dar visibilidade às narrativas do Alto Rio Içá, a WCS Brasil reforça uma convicção institucional: não há transição climática justa sem os povos da floresta no centro das decisões. “A luta pela terra é também uma luta pelo clima”, sintetiza a coordenadora. “Ao reconhecer o protagonismo indígena, fortalecemos a conservação da Amazônia e a ambição climática do Brasil”.
O vídeo gravado durante o ATL é um chamado à escuta e à ação. Em Belém, a presença das lideranças indígenas apoiadas pela WCS Brasil reforçará a mensagem de que demarcação de terras e a participação ativa dos povos indígenas nas conferências internacionais são questões de direito e estratégias vitais para manter o equilíbrio climático global.
Assista ao vídeo completo aqui e conheça as vozes do Alto Rio Içá; vozes que, com a delegação do Amazonas, ecoam na COP30 e na construção de uma política climática que reconheça a demarcação como prioridade.