Um mês após fechamento da primeira fase de abertura de trilhas na BR-319, a equipe WCS–Brasil/Amazônia retorna à rodovia para finalizar a abertura dos plots de amostragem. Entre os dias 29/8 e 12/9, os pesquisadores Eduardo M. Venticinque, Fabio Rohe, Marcelo A. dos Santos Jr e Maíra Benchimol juntamente com onze auxiliares de campo dentre eles alguns comunitários, abriram 80 km de trilhas (5 plots) entre os km. 220 e 420 da rodovia que liga Manaus a Porto Velho.
Desta forma, está instalado o sistema de amostragem que permitirá avaliar o impacto da re-pavimentação da rodovia sobre populações de médios e grandes mamíferos.
Depois da primeira campanha de amostragem, em que 16 km de trilhas foram abertos (um plot de amostragem), uma nova expedição foi realizada com sucesso na BR-319. Com o apoio de três veículos tracionados e um time de dezesseis pessoas (11 mateiros, 01 cozinheiro e 04 pesquisadores) a equipe WCS–Brasil/Amazônia retornou a campo para concluir a abertura de trilhas.
Diferentemente da primeira excursão, a estrada apresentou melhoras no tráfego devido à ausência de chuvas na região. Em contrapartida, a alta temperatura proporcionou dificuldades no rendimento do trabalho, que acrescido com a escassez de cursos d´água encontradas nas trilhas, provocou desidratação em grande parte da equipe. Com a imunidade baixa, muitos dos auxiliares de campo adoeceram e um deles teve que retornar à Manaus para exames específicos, sendo acompanhado por um integrante da equipe técnica. Positivamente, houve uma substancial melhora no tipo vegetacional encontrado nos plots, o que auxiliou na execução da abertura dos transectos.
Em duas semanas de campo, 80 km de trilhas foram instalados por três diferentes equipes e quatro acampamentos foram construidos ao longo da rodovia. Cinco dias foram despendidos com viagens entre as bases e com instalações dos acampamentos, situados sempre próximos aos plots de amostragem. A maior dificuldade deu-se em encontrar locais próprios para instalação destas bases, pois havia poucos igarapés próprios para o banho localizados próximos aos plots. Ainda, em muitas destas bases não haverá mais água corrente em períodos de maior seca, sendo necessária nestas ocasiões a procura de novos locais para acampar.
Em especial nesta amostragem, foi possível o registro de diferentes espécies de mamíferos ao longo das trilhas, principalmente em circunstâncias onde o pesquisador caminhava lentamente, afastado dos auxiliares de campo. Dentre os primatas, destaca-se o grande número de registros do macaco-barrigudo (Lagothrix cana), macaco-prego (Cebus macrocephalus) e do sauim-de-boca-branca (Saguinus labiatus rufiventer). Ainda puderam ser observados animais menos conspícuos, tais como o zogue-zogue (Callicebus caligatus), Parauacu (Pithecia irrorata) e a nova sub-espécie de sauim, Saguinus fuscicolis mura. Também foram registrados veado-vermelho (Mazama americana), do cateto (Pecari tajacu), queixada (Tayassu pecari), cutia (Dasyprocta fuliginosa), macaco de cheiro (Saimiri madeirae) e quatipuru (Sciurus sp.) de forma visual, além da obtenção de registros indiretos de anta (Tapirus terrestris, através de fezes e rastros), Tatus e onça-pintada (Panthera onca, através de vocalizações).
Conclui-se assim a infra-estrutura de campo necessária para futura amostragem da mastofauna na BR-319, com 80 km de transectos abertos e marcados, distribuídos em três blocos de amostragem ao longo de XX km da rodovia.